quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Reencontro


O espetáculo acaba
E quando volto para casa
Tiro a máscara
E tento dormir
Conciliar minha última invenção ao travesseiro

Os moinhos de vento zunem fora
O anúncio da chuva
Meu corpo resfria seu sabor
Tento aquietar meu desejo
Fazia tempo que não te via
Como roguei
Roguei a mim
Roguei a virgem Maria
Para não embargar a voz
Tudo sair como que natural
Espontâneo
Amigos
Amigos que se amaram um dia
Perderam-se em caricias pelas madrugadas
Riram de bobagens
Contamos rachaduras na parede
Por não ter o que fazer
Rimos da lagartixa pintada pela criança
Suspiramos a eternidade
Ah, como sonhamos de mãos dadas vendo o dia amanhecer.
Eu adormecia no seu colo e você para não me acordar, não se mexia, ficava naquela posição até a perna formigar.

Começa a chover!
Olho pela janela embaçada
Tal como fazia quando criança
Sozinha....

Seguirei sozinha...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Retrato feliz


Olhei para o horizonte e vi as nuvens fofas invadindo o mar
Os pássaros rasgavam a paisagem azul
Ipanema gemeu sua beleza
Em cada esquina um santo
Em cada canto uma memória
Nas minhas memórias agora a paz
Passo por Copacabana as ondas do mar borbulham para mim, num infinito sorriso
De cócegas, de sons
Os banhistas bailam numa coreografia massageando minhas retinas atentas
Um cego caminha pelo calçadão
Sente a maresia
Neste Rio de tantas montanhas, cachoeiras, vida...
O sol queima minha pele como presente
As cangas tremulam suas cores nas mãos dos ambulantes
Tento fotografar a vida na poesia
Mas nada retrata tão bem a vida como a vida
Tudo parece pequeno diante a natureza viva dos dias
Bendito dias estejam comigo
Minha alma encantada flutua dentre cores, texturas, sons, peles, bocas...
Mergulho na lembrança desta noite
Brilha meu sorriso, há tanto opaco.


Desejos nefastos


Em pensamentos
teu nariz aquilino
passa pelos meus seios
que eriçam
    de desejo
    de desejo!!!!
oh, meu Deus, de desejo
Sua boca
devora-me
lambe minha alma cintilante, no outono
Seus olhos reluzem
assustam-me
mas devoram-me

Tua pele roça minha pele
e parece que não sei mais qual é minha pele
revisto-me de você
e no seu desejo espelho-me
entrego-me
sozinha, amparada por seus braços, que imagino

Nos meus sonhos, nossos corpos se encontram
porque querem se encontrar
querem se encontrar!
Nada os aplaca
nada
nada
nada

Sonhos e silêncios
silêncio  para evitar nossos desejos
nossos desejos tão íntimos
que revelam
sempre em pensamentos
em pensamentos, Deus meu! Em pensamentos

Meu corpo nu, uma bota, uma meia rendada... Seus fetiches tatuados em meu corpo
Algemas que libertam...

Ah, se minha boca encontrasse seus lábios
eu lhe devoraria
a noite toda sem fim
Nossa intimidade de séculos
de vidas que os ciganos leram
num acampamento de astros

Eu sonhei com você
junto a mim
numa piscina de espumas
num desejo sem fim
Nos perdemos no infinito
Na natureza que não morre nunca
que está acima das ganâncias
acima de tudo
a nossa natureza primeira
instintiva

   Beija-me
   mesmo que em pensamentos
e eu te sentirei
lembrarei
elevarei meu espírito ao éden
Ninfas dançarão 
numa sensualidade selvagem
Apolo
Afrodite
todos os mitos eróticos
estarão ao nosso redor
e brindaremos no céu de outono
o prazer
o prazer eterno de nossos corpos...


 

Doce beijo de anis


A maciez do seu sorriso alegra
Anima
Faz crer
Escorrego sempre em tobogãs de ilusão
Caio em cacos de vidro e sempre levanto com profundos cortes 
Caminho num deserto de areia sozinha
O vento e o sol cicatrizam minha pele
Vivo onde há espaço
Quando há espaço
Seu beijo é a mais pura contestação que essa vida vale a pena
Fonte inspiradora
Lampejo de graça diante tantas desesperanças
Amanhã já não sei
Você pode partir sem pedir licença
Sem se despedir
Passar por mim na rua, sem se dar conta
Carregar muitos girassóis e nenhum sorrir para mim


Enquanto o hoje acontece
Vamos ao cinema
Com balas e beijos de anis
Beber vinho com chocolate
Deliciar-se num banho de espumas
Sorrir como crianças
Sem compromisso

O Rato

Eu vi um rato no mato

que ato
que ato
Roendo
roia
a dor
a agonia
O rato
carregou
em seu trem vagão
toda confusão
O rato
esse coitado
passageiro
ultrajado
o escolhido e apedrejado
que leve consigo
minha dor
minha ilusão




08/2002

Um chapéu, uma lembrança...


O show de Rock está intimamente ligado à adolescência; tem qualquer coisa de novo, um frenesi, uma batida violenta e decidida. É como se representasse a ânsia que o adolescente carrega. O som do rock rompe o silêncio como se rompesse o tempo, transforma com vigor jovem. Mas seria indevidamente só atribuído a adolescentes, explico para não enfurecer os roqueiros mais velhos: essa paixão é carregada pela vida, e o coração do verdadeiro roqueiro não envelhece nunca, sendo então a juventude do rock inesgotável. E é nessas condições que nossa personagem tomou posse do chapéu carregado pelo vento, no florescer da adolescência.
O estádio estava lotado, as pessoas acotovelavam-se para chegar o mais perto da barra que separava o palco. Flávia chegou bem cedo, acompanhada de Ana, sua amiga inseparável, pois a ordem de chegada determina o apreço e a vaga, se é que se pode chamar assim.
O sol estava escaldante, sendo aliviado por esguichos de água. A proximidade natural ao invés de aborrecer excitava ainda mais. A amiga Ana, vislumbrando as infinitas possibilidades que existia naquele estádio, teve a idéia de mudar de lugar, pois deveriam ficar próximas de pessoas interessantes, já que os suores iriam misturar-se, era melhor fazer uma seleção. Assim foi: foram perfurando a multidão até encontrar dois garotos bem bonitinhos. Neste caso a paquera era fácil, o contato corporal direto dispensava olhares tímidos, ou escancarados, era melhor não olhar, os odores envolviam e decidiam. Ana logo estava aos beijos com um dos garotos, Vitor, e permaneceriam assim grudados por todo o show. Desta maneira Flávia ficou só. O outro garoto não se interessou por ela, ao que ela retribuiu pensando também não ter ficado interessada por ele. Mentiu pra si mesma. Resolveu sair dali, consultou à amiga num dos pequenos intervalos de beijos que a separava do recente amor:

- Vamos sair daqui?
Ao que Ana respondeu.
- Não sei se o Vitor vai querer sair. Calma, tenho que ver.
- Vai logo
A chuva começou a cair, aliviando o calor. Choveu, parou, tornou a chover, parou. A roupa molhada colava no corpo.
O tempo passava e ela, coitada, não obtinha nenhuma resposta. Tornou a perguntar e ouviu o que temia: Vitor, não queria sair dali. O jeito foi contentar-se com a situação, já que não desejava sair sozinha.
O show começou e os gritos agudos das garotas, voavam no estádio lotado. O movimento ficou muito maior. As garotas desesperadas queriam chegar mais perto da banda. Ver de perto o objeto do desejo. E eles que lá estavam desde cedo, foram comprimidos na grade de proteção. Mas tudo fazia parte. As músicas diziam seu recado, ingênuo e crédulo na vida. E todos cantavam, como num grande coro. E o show foi terminando e, as vozes pediam umas e outras músicas. Acabou o show e saíram do palco lançando as baquetas, que passaram longe de onde eles estavam. Voltaram após um acalorado bis. Cantaram a última música. Um chapéu flutuou no ar vindo do palco. Caiu diretamente nas mãos de Flávia. Acabou o show. Desceu o guitarrista e ficou antes da barra de proteção. Chamou pela garota que estava com o chapéu na mão. Gritou:
- Você pode me devolver o chapéu, ele caiu sem querer?
Ao que ela respondeu, prontamente:
- Não, eu consegui pegar.
Ele replicou:
- Tudo bem, mas é que eu não joguei intencionalmente.
Ela parou e pensou um pouco e respondeu:
- Mas, calcula quanta sorte tive em pegá-lo.
- Entra aqui pra eu falar com você.
Ela pulou a grade com a ajuda dele. Quando chegou do outro lado, estando bem próxima dele, percebeu o quanto ele era alto e bonito: moreno de cabelos lisos e negros; a pele lisa, parecendo muito macia; a boca bonita e carnuda, os dentes brancos e perfeitos.
- Me devolva, por favor, eu comprei esse chapéu, num lugar que não sei se voltarei.
- Você irá voltar, eu tenho certeza, mas esse chapéu agora é meu.
Decepcionado ele disse:
- Tá, pode ficar com ele.
Ela pulou em sua direção e deu-lhe um beijo na face.

Quando voltou para o outro lado, a amiga disse:
- Aí Flávia, já ganhou.
Ela corou de vergonha.

Foram saindo do estádio. Lentamente, pois os primeiros a chegar, também eram os últimos a sair, já que o portão de saída ficava no fim do estádio. Flávia foi embora contente, levando o chapéu e uma lembrança.


O trem de papel

Estava na estação a esperar o trem, acho que há quinze minutos. Olhava de soslaio às vezes para o relógio afixado na pilastra, que parecia derreter, por isso não fixava o olhar e nem tinha certeza de quanto tempo ficara no turbilhão do tempo desde que ali chegara. Sei que o relógio parecia viscoso, derreter-se, tal como em quadro de Salvador Dalí. Escolhi o final da estação que sempre fora meu lugar predileto das estações de trem, penso que ali é onde exerço minha verdadeira meditação. Olho para o horizonte e consigo ver a cor do céu com o traçado dos fios da eletricidade da engenhoca para condução dos vagões; vejo vir de longe os trilhos que me levarão para algum lugar, quase sempre conhecido, como se o porvir alguma vez nos fosse conhecido.
Evitando olhar o relógio, com seus ponteiros e sua hora e seu tempo viscosos, passei a olhar para os trilhos ao lado da plataforma. De repente surgiu um pontinho preto, quase cinzento, imóvel, depois outro, depois outro, e muitos e muitos outros. Esses pontos começaram a mover-se e fazer um barulho que eu quase identificava, começaram a ganhar forma que eu quase descobria o que era, mas meu corpo ficou inerte, não se movia sobremaneira, talvez fosse o horror de saber o que sabia e não queria acreditar. Eram ratos! Meu Deus, eram ratos. Logo eu que sofro de rato-fobia, fechei os olhos, mas meus olhos coçavam. Depois de algum tempo, finalmente os abri , respirei fundo e pensei: “cretina, você tem que se mover”,  comecei movendo o dedão do pé, depois os dedos das mãos, e quando vi que podia me mover, dei um pulo de  sobressalto e um grito grave e desesperado e  corri. A estação estava deserta, veio um guarda de uniforme azul, perguntou: “A senhora está bem¿” – Ao que respondi com a voz trêmula: “Senhorita. Estou bem sim.”  
Ouvi o apito do trem e fiquei esperando na plataforma o trem encostar, não me atrevi olhar novamente para os trilhos. O trem parou, eu entrei, me certificando se não havia nenhum rato  dentro, mas eles não estavam lá. O vagão estava quase vazio, tinha algumas pessoas, para ser precisa cinco, todas com a cabeça cobertas pelos capuzes das blusas. O trem me pareceu ter uma textura diferente como se fosse de papel e as cores não eram as cores habituais da companhia. As cores eram fortes, bancos vermelhos, o teto azul petróleo, as paredes roxas com bolas brancas, o piso bege, com riscas pretas, ou seja, nada convencional. Sentei desconfiada e começou a tocar uma música, “Another Brick in the Wall” do Pink Floyd. Aquilo me soou uma volta à adolescência, como se estivesse entrando numa viagem lisérgica. Fiquei por um tempo quieta ouvindo a música, sentindo seu ritmo, prestando atenção a sua letra, talvez aquilo me dissesse alguma coisa. “We Don`t need no thought control”. Essa frase podia ser a chave daquela viagem. A música tocou inteira e silenciou. As pessoas continuavam paradas com a cabeça baixa. Eu quase não ousava olhá-las. Não sabia o que fazer, fiquei olhando para minhas unhas, tirando o esmalte verde que descascava. Nisso o trem parou numa estação, levantei-me, mas era como se meus pés estivessem pregados ao assoalho do trem, percebi que não podia sair dalí. Lá fora o trânsito de pessoas era intenso, até que entrou no vagão, assustado, como que fugindo de alguém, um garoto de mais ou menos uns dezenove anos. Sentou-se no banco a minha frente. Fitei seu rosto e mal pude disfarçar meu susto, ele não tinha nariz e seus olhos só tinham o branco. Fiquei com muita agonia tentando imaginar como ele respirava, quase faltou a mim a respiração. Permaneci quieta, sem saber o que fazer, sem entender porque havia sido atirada aquela situação esquisita. Os encapuzados permaneciam da mesma maneira, sem levantar a cabeça e sem dizer palavra.
O trem parou novamente, desta vez bruscamente. Os encapuzados levantaram-se, lentamente também foram erguendo o rosto e para minha enorme perplexidade: eles não tinham rosto; em uníssono cantaram o refrão de “Another Brick in the Wall” do Pink Floyd - “We Don`t need no thought control”- E desceram para um campo de girassóis sob um céu vermelho.
Fiquei ali extasiada pela imagem que havia visto do campo de girassóis sob aquele céu vermelho que parecia irreal, artificial, vertiginoso, assombroso, mas encantador. A frase ecoava ainda aos meus ouvidos: “We Don`t need no thought control”. Era como se eu estivesse drogada, mas eu não havia feito uso de nenhuma substância alucinógena, poderia ser parte da viagem da droga, não lembrar da ingestão. Resolvi não questionar mais e me entregar. Mas a pergunta era: me entregar a quê¿ O que mais poderia acontecer¿ Ou o que é muito pior, o que poderia me acontecer¿
O trem parou novamente. Olhei para fora e não havia nada, estávamos suspensos no espaço. Começou a escurecer lá fora. O garoto sem nariz levantou-se e acionou um botão amarelo no canto esquerdo do teto e acenderam-se luzes amarelas. Foi à outra extremidade do vagão, apertou outro botão vermelho e acenderam-se alguns fachos de luzes em vermelho, voltou para sua cadeira em frente a minha e sentou-se quieto. Começou a tocar uma música francesa erótica. O garoto levantou-se e veio ajoelhar-se bem em minha frente. Começou a soprar palavras em francês e seu hálito era delicioso e envolvente, um feitiço. Só consegui ver sua boca que era linda, a mais bela que já vi na vida, dentes perfeitos, lábios perfeitos. Até que ele tocou meus lábios, nos beijamos, o beijo mais terno e bom. O trem começou a andar da maneira mais macia, abri meus olhos e atravessávamos o firmamento repleto de estrelas, lindas! Fechei os olhos, paramos de nos beijar e o trem parou. Ele desceu, as luzes apagaram, a musica silenciou e eu jamais esquecerei daquele beijo sem olhos.
O trem seguiu viagem e fiquei sozinha no vagão pensando no que mais poderia acontecer, ouvi um barulho que vinha da porta que dividia os vagões, de repente ela se abriu e entrou uma garota loirinha cantarolando bem baixo, quase inaudível uma música, que me era familiar, mas que eu não conseguia decifrar qual era, e mais um garoto igualmente loiro e de cabelos cacheados entrou cantarolando a mesma música e mais outro e mais outra, todos vestidos de roupas sociais cinzas e na fila vertical que surgia no vagão a cantoria ganhava volume e já passavam de quinze crianças. Até que todos marchavam e cantavam. Nessa marcha ritmada e evidentemente ensaiada todos viraram-se de frente para mim. Agora eu já conseguia identificar a música: “Quero ver, você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do faz. Quero ver o amor nascer, mas se a dor vier, você resistir e sorrir. Se você pode ser assim, tão...”. E as crianças pararam de cantar, estenderam as mãos para frente e de seus dedos começaram a brotar flores, de muitas cores, pequenas e delicadas flores. Um cheiro doce me embriagou e comecei a rir e as crianças começaram a rir junto a mim e corríamos pelo vagão numa felicidade nunca antes sentida por mim. O trem parou. Fora do vagão tudo era fogo, mas eu não sentia calor, era como se dentro do vagão tudo estivesse imune. As crianças uma a uma me beijaram a face delicadamente e sumiram nas chamas flamejantes.
O trem seguiu seu destino, eu seguia embriagada, para onde¿ Não sabia. Deitei no banco e adormeci. Seria um sonho dentro de um sonho¿ Sonhei que estava na Irlanda, num castelo em ruínas, seria uma viagem dentro de uma viagem¿ Vislumbrava a paisagem cinza da Irlanda, os lagos espelhados, a vegetação verde com seus pontos brancos de ovelhinhas dóceis de algodão. Passeei por suas bucólicas cidadelas que de tão pequenas tinham sempre ao lado do cemitério a igreja. Colhi amoras, brinquei entre as flores. Fui muito feliz, mas acordei e ainda estava no trem, ou seja, o trem era minha realidade. A minha frente agora se sentava uma senhora gorda com um lenço preto na cabeça, parecia uma matriarca de Andaluzia, saída de uma peça de Federico Garcia Lorca, me olhava com olhar inquisidor, como se estivesse me reprovando, como se eu fosse uma espécie de Joana D`Arc pós moderna. Lembrei do refrão da música: “é, não deixarei que eles controlem meus pensamentos, que venha o ser mais estranho, saberei me defender”. E gritei alto: “saberei me defender”. A senhora meneou a cabeça em sinal de desprezo. A locomotiva se pôs a andar mais rapidamente e comecei a ouvir muitas vozes em minha cabeça. Vozes de pessoas próximas, de meus pais, irmãos, amigos íntimos, falavam coisas desconexas, frases de amor, de desamor, de incentivo, de depreciação. Essas vozes começaram a lembrar as escolhas que fiz em minha vida e a levantar hipóteses se eu tivesse feito diferente, como teria sido. Essa aflição deve ter durado por muito tempo, não sei estimar, mas me pareceram dias, mas não vi mais nada, fiquei imersa nesse tormento que não parecia ter fim. Ouvia as vozes e suas suposições e chorava copiosamente. Filmes de como minha vida poderia ter sido, passavam pela minha cabeça. Foi o martírio mais bem arquitetado que poderia ter vivido. Seja quem for que tenha criado essa viagem que fui submetida é o gênio da retaliação, porque só posso ter feito alguma coisa para merecer tamanho castigo. Aos poucos as vozes foram desaparecendo e abri os olhos a senhora de Lorca não estava mais a minha frente, o que me levou a conclusão de que o trem havia parado, ou a senhora simplesmente evaporou no ar, tudo era possível.
O trem parou e um anúncio foi dado: “estação final, solicitamos a todos que desembarquem nessa estação”. Desci, olhei a minha volta e estava exatamente na estação onde havia embarcado, o trem evaporou. Segui perplexa pelas ruas a caminho de casa.